Autoridades creditam o baixo crescimento ao fechamento da Usina Água Limpa e Curtume
Mesmo com um aumento de 2,4% na população aprazivelense de acordo com os números do Censo 2022 divulgado nesta quarta-feira (28), o crescimento abaixo das estimativas repercutiu de forma negativa entre autoridades aprazivelenses e agora, se busca explicações para esta redução.
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Os números finais do Censo de 2022 mostram que a população aprazivelense é de 22.280. A última estimativa do IBGE projetava que a cidade teria uma população de 25.651 habitantes. Em 2010, a cidade tinha 21.746 habitantes.
O presidente da Câmara Marcos Batista (PV) recebeu com preocupação os números finais do Censo 2022 e que é preciso buscar saídas para reverter este quadro. Segundo Marcos, o poder público precisa criar estímulos para atrair e manter pessoas e empresas na cidade
“A situação está assim, por que não se criou estímulos e atrativos para a cidade crescer com a chegada de novas empresas. Quais políticas e atrativos temos hoje? É preciso atender as empresas, mas também, é preciso saber se a população quer o mesmo. Tem-se a impressão que uma parte da população não quer”, disse.
Segundo o vereador, é preciso acelerar a construção do novo distrito industrial e oferecer treinamentos para a população ser empregada por estas futuras empresas. “É preciso industrializar nossa cidade, que é em boa parte, agrícola”, finaliza.
A presidente da Associação Comercial e Industrial de Monte Aprazível (ACIMA) Maria Ines Paiola disse que as autoridades precisam sempre buscar formas de atrair mais empresas que vão gerar mais empregos. Segundo ela, teve-se a impressão que a cidade estava bem quando tinha duas usinas em funcionamento.
“A cidade tinha duas usinas e agora só tem uma. Tinha o curtume e concessionárias de carros e deixaram ir embora. Só o comércio não consegue segurar as pessoas e os empregos. Cidades da região como Mirassol e Neves buscam trabalhadores aqui em Monte Aprazível e com isso, nos transformamos em cidade dormitório”, disse.
Nos últimos 32 anos, o período de maior crescimento da cidade foi entre 2000 e 2010. Na época a população aumentou 15,33%, passando de 18.413 para 21.746. Neste período o prefeito era Luiz Carlos Canheo.
O ex-prefeito acredita que o aumento da colheita mecanizada da cana-de-açúcar fez com que parte da população que se mudou para a cidade no auge do ciclo da cana, quando Monte Aprazível tinha duas usinas em funcionamento, voltou para seus estados. Ele salienta ainda que muitas pessoas se recusaram atender os recenseadores do IBGE.
“Acredito que colheita mecânica tirou muitos empregos braçais e com isso, diminui o número e cortadores. Muita gente voltou para seus estados e foi um ou outro aprendeu a operar máquinas”, disse.
Canheo disse que quando foi prefeito, foi procurado e procurou trazer novas empresas para a cidade, mas, que o orçamento da prefeitura o impedia. Segundo Canheo, os prefeitos que o sucederam tiveram mais dinheiro que ele.
“Na minha época fui procurado por empresas de Mirassol. Eles queriam galpão, eu não tinha, nem para ceder e nem dinheiro para construir. Outros prefeitos tiveram orçamentos maiores e não fizeram. Meu orçamento foi pequeno em quatro anos e tinha que guardar dinheiro para pagar funcionários. Tive muito sonho, mas não tinha dinheiro”, disse Canheo.
A mesma avaliação que o baixo crescimento populacional são consequências do fechamento da Usina Água Limpa e do Curtume tem a presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Audria Trídico.
“A usina e o curtume eram grandes geradores de emprego, diretos e indiretos. Elas não foram substituídas e com isso, aquelas pessoas que vieram para trabalhar voltaram para seus estados de origem”, disse Audria.
Audria afirma que estamos vivendo um momento difícil da economia do Brasil e que o sistema não colabora para a instalação de novas empresas na cidade.
“O município tem vai concluir um novo distrito industrial. Muita gente trabalha em outras cidades e moram aqui e muitas se mudaram, porque elas querem morar próximo ao trabalho. Temos sete meses de governo federal e estadual e acredito que teremos boas perspectivas daqui para frente”, conclui.
Procurado pela reportagem, via Assessoria de Imprensa, o prefeito Márcio Miguel (PSDB) não comentou os números do censo divulgados pelo IBGE e quais seriam suas consequências para o município de Monte Aprazível.
Empresas
Em 13 anos, a cidade de Monte Aprazível perdeu duas grandes empresas que empregavam centenas de famílias: o Curtume Monte Aprazível fechou suas portas em 2010 e em 2013, a Usina Petribu. Além disso, duas concessionárias de carros novos e outras médias e pequenas empresas fecharam as portas.
Alívio para os prefeitos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou nesta quarta-feira (28) uma lei que impede a redução de repasses por meio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) a cidades que registraram perdas populacionais. A sanção do texto ocorreu horas após a divulgação dos dados populacionais do Censo de 2022.
De acordo com os dados, dos 5.570 municípios do Brasil, 2.399 perderam habitantes entre 2010 e 2022, o que representa 43% do total. O texto sancionado por Lula, na prática, impede que os resultados apresentados do Censo de 2022 sirvam de parâmetro para o cálculo do FPM de 2024.
A lei prevê que os coeficientes utilizados para a distribuição em 2023 deverão ser mantidos para todos os municípios que apresentarem redução do índice.
- 1º ano após publicação do Censo: 10% de redução dos ganhos
- 2º ano após publicação do Censo: 20% de redução dos ganhos
- 3º ano após publicação do Censo: 30% de redução dos ganhos
- 4º ano após publicação do Censo: 40% de redução dos ganhos
- 5º ano após publicação do Censo: 50% de redução dos ganhos
- 6º ano após publicação do Censo: 60% de redução dos ganhos
- 7º ano após publicação do Censo: 70% de redução dos ganhos
- 8º ano após publicação do Censo: 80% de redução dos ganhos
- 9º ano após publicação do Censo: 90% de redução dos ganhos
- 10º ano após publicação do Censo: 100% de redução dos ganhos
O dinheiro que for retirado desses municípios será redistribuído de forma automática aos demais participantes do FPM.
Também estabelece um período de transição para a perda de repasses desses municípios. A transição ocorrerá nos 10 anos seguintes à publicação do Censo.