ELAS ASSUMIRAM os cabelos brancos e não importa o que os outros dizem

O sentimento de liberdade que prevalece vai muito além do físico, é uma questão de saber quem se é de verdade, de reconhecer seus valores sem depender da aprovação ou imagem que os outros tem de você“, diz Andréia Pedronila

Com o passar dos anos, nosso corpo começa a dar sinais de mudanças. Não importa se você se alimenta corretamente, pratica exercícios físicos e dorme no mínimo oito horas por dia. Uma das marcas da passagem do tempo tem nome e sobrenome: cabelos brancos.

Para mulheres então, os fios brancos são tratados como uma erva daninha, que tem que ser eliminada. Para outras, são mudanças tão naturais que nos dias de hoje elas estão assumindo os fios brancos.

A tendência vem ganhando muitas adeptas, mas, engana-se quem acha que a manutenção dos fios brancos é uma tarefa fácil. No ano passado, a atriz Samara Filippo, aos 44 anos assumiu de vez os fios brancos, e não foi só ela. Na semana passada, atriz Jennifer Aniston, de 54 anos, que fez sucesso na série ‘Friends’ (1994-2004) fez um vídeo para divulgar um produto de beleza, mas os cabelos com as raízes naturalmente grisalhas chamaram mais atenção dos fãs.

Se para algumas mulheres, optar em manter ou não a naturalidade foi uma escolha que veio com o tempo, para a terapeuta Andréia Pedronila envolveu outros fatores. Em 1999, na época com 27 anos, Andréia teve problemas de saúde e descobriu a Leucemia – câncer maligno que afeta os glóbulos brancos e tem como principal característica o acúmulo de células doentes na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais.

“Em consequência do tratamento, tive perda total dos cabelos e até então não tinha nenhum fio branco, mas, quando eles começaram a nascer, já vieram grisalhos. Neste momento foi difícil aceitar, era jovem, e assim que a equipe médica liberou a coloração química, iniciei de pronto”, diz ela.

Anos mais tarde, em 2018, com 46 anos, Andreia decidiu de vez não mais colorir os cabelos e passou deixar os fios naturais. Ela afirma que já alimentava uma certa curiosidade de ver como ficaria esteticamente este novo visual.

“Tive algumas tentativas antes, mas quando a raiz começava a crescer um, dois centímetros, eu pintava. O que a princípio começou como uma curiosidade em ver como ficaria minha imagem, e a contragosto de todos, familiares e colegas de trabalho, eu gostei do que vi. Porquê o que importa é a sua autoimagem”, diz.

Andréia conta que quando começou a deixar os fios brancos aparecerem, teve que lidar um certo preconceito das pessoas que estavam ao seu redor, pois, há cerca de 20 anos, não se usava o termo cabelos platinados.

“Naquela época não se falava tanto como se diz hoje dos cabelos “platinados” que hoje está super em “moda”. Ouvi muitos comentários: parece mulher desleixada, ou, você tá parecendo uma velha e outros mais tão desrespeitosos quanto”, disse.

Se ela passou pelo tratamento pesado contra o câncer com muita fé que tudo daria – e deu certo – não seriam comentários sobre a cor dos cabelos que abalariam a autoestima de Andreia. Ela ressalta que as pessoas não respeitam a sua decisão, a sua escolha e que tudo que foge do padrão, é errado.

“As pessoas não respeitam sua decisão e tudo que para elas foge ao um padrão seja de beleza ou comportamental, você está errada e tem que se enquadrar. As pessoas têm medo de serem quem elas realmente são, de se mostrarem ao natural. Parece que há uma necessidade de “serem aceitas” “, diz.

Segundo a cabeleireira Wind Ribeiro, o processo para deixar os cabelos naturais leva algum tempo e que fatores genéticos e a velocidade de crescimento varia de pessoa para pessoa.

Fernanda Melo, enfermeira com qualificação em tricologia e especialista em terapia capilar conta que os fios brancos começam a aparecer à medida que as células da raiz do cabelo começam a perder a melanina.

“Cada folículo piloso (raiz do nosso fio) apresenta um conjunto de células que produzem melanina (pigmento do cabelo) que estão ativas, uma vez esgotadas a produção e reservas dessas células os cabelos perdem melanina e começam processo de embranquecimento dos fios”, disse.

Aos 18 anos ela já tinha fios brancos e cacheados. Começou a fazer progressiva, para alisar. Parou a assumiu o enrolado. Percebeu que os fios brancos começaram a aumentar há pouco mais de 10 anos. Para “se livrar” dos fios, ela aplicativa tintura há cada 15 dias. Era assim a rotina de Nilce Coppe.

“Pintava as raízes dos cabelos e à medida que o tempo passava, elas aumentavam. Eu sempre dizia para minha filha que iria deixar de pintar o cabelo e ela não concordava. Estou cansada e a partir de uma certa de idade, não que você está desanimada, mas se torna realista. Foi assim que assumi os brancos”, disse.

Nilce Cope (à esquerda) e Roseli Viana contam que tiveram resistência da família quando decidiram deixar os fios brancos

Conversou com a filha, que à princípio não queria e, para realizar a mudança, Nilce disse que precisou deixar o cabelo mais curto. Ela conta que está fase não foi fácil. Deixou de realizar as progressivas para facilitar o processo.

Todo o processo durou mais de um ano. Deixei de pintar os cabelos e me sinto bem. Vou fazer 70 anos e vou encarar a realidade. Me sinto muito bem. Hoje uso um xampu para não deixar os cabelos amarelos.

A cabeleireira Wind Ribeiro conta que a pandemia da Covid-19 fez com muitas mulheres assumissem os brancos, uma vez que já havia um movimento forte de aceitação dos fios brancos. A falta de tempo para cuidar dos cabelos também contribuiu para este movimento.

“Muitas mulheres não tinham com ir nos salões durante a pandemia e muitas não sabiam aplicar em si mesmas os produtos. Acabaram deixando os cabelos naturais, gostaram e aderiram”, disse ela.

“A maior reclamação é o tempo que se gasta para ir ao salão, uma vez que a vida de todo mundo é corrida. E a facilidade de não se preocupar em reaplicando tintura na raiz a cada 20 dias”, completa Wind.

Roseli Viana conta que assumiu os brancos em 2020, quando começou o processo para retirada de química. Ela conta que pintar os cabelos dá mais trabalho, ainda mais para quem já tem alguns cabelos brancos

“No meu caso, achei melhor assumir os brancos. Isso meu trouxe uma grande alegria, porque é como se eu tivesse vivendo uma nova fase da minha vida. Acho que fiquei mais elegante e é bem mais fácil de cuidar. Me sinto bem. E agora estão totalmente naturais, sem tintura”, disse.

Como toda mudança provoca estranheza, Roseli disse que no início família estranhou o novo estilo, mas que depois de alguns dias, mudaram de ideia.

“O processo de mudança na cor dos cabelos, parece ser fácil. Wind conta que ele pode variar de pessoa para pessoa, uma vez que o cabelo cresce devagar.

Wind Ribeiro conta que a pandemia da Covid-19 fez com muitas mulheres assumissem os brancos

“Cada pessoa tem um tempo de crescimento. O normal do cabelo crescer de 1 a 1,5 cm por mês. A pessoa vai cortando a parte que tem coloração, deixando os fios naturais. Fatores genéticos e a situação da saúde de cada pessoa também contribuem para a velocidade do crescimento”, disse Wind.

Além de assumir os fios brancos, cortes diferentes auxiliam e facilitam o processo de mudança da cor dos cabelos. Wind Ribeiro disse que o corte certo deixa o visual delas mais jovial e moderno.

“Nos cabelos brancos a principal características deles é a porosidade. E isso não têm como anular, mas sim controlar. Há tratamentos de hidronutrição e principalmente acidificação. Para deixar um visual mais empoderado, moderno e jovial, há cortes que valorizam a cor e a textura, como o Chanel desconectado, Pixie, Long Bob e os cortes assimétricos”, ressalta.

Existem alguns fatores que contribuem para o aparecimento de cabelos brancos ou em alguns casos, eles começam a amarelar. Segundo Fernanda Melo, fatores externos contribuem para este processo, como o excesso de produtos químicos (matizantes) exposição sol e poluição.

Mudança interna

Se para algumas mulheres mudanças que vêm com o tempo são difíceis de aceitar, tanto para elas quanto para a sociedade, para Roseli Viana e Andréia Pedronila passar a aceitar os fios brancos passam por um processo de autoaceitação, reconhecendo seus valores. Para elas, os cabelos brancos não são sinais da idade.

“Eles perguntaram: Não vai pintar mais? Mais depois, em semanas, já acharam lindo. Agora, minha mãe está pensando em tirar a tintura e assumir os brancos. Eu acho isso muito bom. Na nossa vida, tudo tem uma fase e temos que curtir. Não é questão de aceitar, e sim começando a viver uma nova fase da vida”, disse.

“Acho que toda pessoa que tem ou começou a aparecer os cabelos, brancos, o certo é seria assumir. Não é sinal de idade. De uma certa forma, na minha família, com 15 anos, já achava alguns fios brancos; é uma questão genética. Não é um sinal de velhice”, finaliza Roseli Viana.

Passado o processo de adaptação, Andreia conta que hoje recebe muitos elogios e que muitas mulheres já confidenciam a ela que adorariam também deixarem seus cabelos naturais, mas não tem coragem.

“Isso vem muito da criação e dos padrões de beleza impostos pela sociedade. Mas realmente é libertador assumir seus cabelos brancos, não só pela manutenção, pois o cuidado é outro. O sentimento de liberdade que prevalece vai muito além do físico, é sobre uma questão interna de autoaceitação, de estima, de saber quem se é de verdade, de reconhecer seus valores sem depender da aprovação ou imagem que os outros tem de você”, finaliza Andréia.

Dúvidas

Para você cuidar melhor dos fios brancos, especialista em terapia capilar Fernanda Melo responde algumas questões sobre os cabelos brancos.

  • Os cabelos brancos são mais sensíveis? Não, os cabelos brancos apresentam a mesma estrutura anatômica única diferença é pigmentação.
  • Arrancar um fio branco faz mais fios brancos nascerem no lugar? Mito, uma vez arrancado o fio branco, pode voltar nascer fio branco, mas não interfere nos folículos ao redor
  • Por que pessoas mais novas também têm fios de cabelo brancos? Existem diversos fatores além da herança genética que aceleram o processo de embranquecimento dos fios, algumas doenças, medicações quantidade excessiva de radicais livres. Estudos recentes comprovaram que o estresse tanto físico quanto emocional acelera o processo de embranquecimento.

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