GOLPES NA INTERNET e por telefone; o próximo pode ser você?

Na última quarta-feira (1º), o MR Notícias publicou uma entrevista com o delegado Mauro Truzzi, que proferiu palestra sobre golpes na internet. Para ilustrar o que o delegado falava, localizamos pessoas que caíram em golpes, tanto na internet quando pelo telefone.

Desconfie de promessas de ganhos fáceis e de produtos com valores muito abaixo do preço de mercado.

Um dos casos aconteceu no ano passado, quando um aplicativo chamado Open Cart se tornou febre em um grupo de aprazivelenses. Há relatos de pessoas perderam altas quantias, algo em torno de R$ 50 mil. Algumas destas vítimas foram procuradas, mas não quiseram falar, mesmo de forma anônima.

“Sabemos que as pessoas tem dificuldades financeiras e vê as vezes a situação abrindo portas. A pessoa, em má situação financeira, busca os meios virtuais e encontra anúncios onde a pessoa pede pagamentos adiantados, não libera o empréstimo, pede mais dinheiro e isso é golpe, que pega a pessoa numa situação de desespero, isso é uma crueldade. A ganancia, o lucro fácil faz com que a pessoa caia nos golpes”, disse Mauro.

O delegado disse ainda que as pessoas têm que desconfiar de tudo como sites e links com ofertas que sabemos estar abaixo do valor de mercado.

Open Cart

A promessa de ganhar dinheiro investindo em um aplicativo e com ganhos de até 100% do “investido” em pouco de 20 dias atraiu dezenas de aprazivelenses para um novo esquema de pirâmide financeira. Para o “vendedor”, marketing multinível.

Para entrar, uma pessoa que já estava no aplicativo a há algum tempo convida outra. Primeiro você tem que abrir uma conta no banco digital de criptomoedas, que converte R$ 514 em 105 dólares (cotação do dia 03/11/2023).

Com o cadastro e os 105 dólares depositados na plataforma, a pessoa precisa rodar uma espécie de roleta que captura produtos que seriam ou são foram vendidos e com isso ele ganharia comissão, que varia de 0,26% e pode chegar até 0,55% a cada produto vendido.

No primeiro nível o usuário teria que completar 50 ordens ou vendas por dia e as comissões poderiam chegar a 5 dólares por dia. No final de 15 dias, os 105 dólares se transformariam em 210 e o vendedor poderia retirar tudo, transferindo de volta para a conta em um banco de criptomoedas ou reaplicando tudo.

A professora Mônica (não é o nome real) de 41 anos, disse que foi convidada por um amigo com a promessa de ganhos em dólares.

“Achei algo vantajoso, mas estava ciente de que isso era uma pirâmide, portanto não investi muito dinheiro. Depositei R$ 600 e entrei no aplicativo Opencart por um link de convite. Após 15 dias, saquei o valor que tinha investido”, conta Mônica.

Tesouro Direito, título de renda fixa de curto prazo, que são títulos da dívida do Governo Federal tem rendimentos bem menores. Estes mesmos R$ 530, investidos no Tesouro Selic 23, que vence em dezembro de 2023, poderia se ter um ganho bruto aproximado de R$ 62.

Depois de ter recuperado o investido, Mônica continuou e percebeu que poderia ganhar mais dinheiro. Mônica contou que indicou a mãe e o irmão e um colega de trabalho para mudar de nível.

“Mas a ganância faz a gente entrar no buraco, pois eles oferecem mais dinheiro conforme você vai cadastrando pessoas na sua rede. Acabei colocando minha mãe e meu irmão e coloquei um colega também para subir de loja. Precisaria de 3 pessoas e 500 dólares para ir para essa tal de segunda loja. Acabei conseguindo, ao invés de parar por ali, não, fui arrumando mais pessoas, mas sempre deixando elas cientes de que não era extremamente seguro. Acabei não sacando mais dinheiro, pois queria chegar na loja 3. E para chegar na loja 3 precisaria de 5 pessoas na sua rede inicial e 2000 dólares na conta.

E o que parecia ter ganho fácil de dinheiro, virou frustração para Mônica. Ela chegou a terceira loja.

“Acabei entrando na terceira loja e as coisas desandaram. Começaram as notícias de que o aplicativo não estava deixando sacar. Pedi um saque para fazer um teste e não caiu”, conta.

Ela conta que depois que tentou sacar os ganhos, falou com o agente da Opencart e segundo ela, o agente disse que o aplicativo estava passando por uma manutenção e que tudo se normalizaria.

“Até agora não soube de ninguém que conseguiu sacar e sei de pessoas que perderam muito dinheiro com esse aplicativo. Enfim, não existe almoço grátis”, conta ela.

Mônica investiu R$ 600, sacou dos ganhos depois de 15 dias e já estava, em 2022, com cerca de 2500 dólares (R$ 12 mil na cotação da época)

Golpistas entraram em contato

No caso de Maria (nome alterado para não expor a moradora), o caminho foi contrário. Os golpistas entraram em contato com ela pelo Instagram, com uma proposta de emprego para gerar renda. Com uma conversa e promessas de ganhos fáceis, ela recebeu um link para acessar um aplicativo e fazer um cadastro.

“Você faz o cadastro e as lojas começam mandar uns produtos para você comprar para subir os elogios da loja e assim ter uma visibilidade maior. Depois, eles começaram a pedir para fazer uma recarga de R$ 5 reais para desbloquear as tarefas. Você efetua o pagamento do produto aí eles colocam na sua carteira o que foi investido, mais sua comissão de cada produto”, disse Maria.

Ela conta que no começo, tudo funcionou. Investiu R$ 20, ganhou R$ 50 e depois disso, fizeram um PIX de R$ 70 reais. Segundo Maria, os golpistas perguntaram se ele queria continuar trabalhando com eles. Ela aceitou e foi quando começaram os problemas.

“Eu me vi pagando os produtos e ganhava a comissão que ficava tudo nessa carteira. Tentava retirar e não conseguia. Sempre que tentava fazer o saque, eles falavam que eu não tinha terminado as tarefas. Por fim, tirei dinheiro de onde não tinha pra tenta retirar da carteira pelo menos o que eu tinha colocado no aplicativo”, disse.

Maria contou ao MR Notícias que depositou R$ 2.300 e teve R$ 3.800 de comissão. Ela tentou novamente retirar o dinheiro bloqueado. Segundo ela, os golpistas pediram mais R$ 300 para fazer o desbloqueio.

“Foi onde vi que era golpista e até hoje não consegui recuperar nada. Entrei em contato com meu banco para tentar estornar o dinheiro. Fui informada que eles iriam bloquear a conta da pessoa e se tivesse o valor lá eles estornariam”, disse.

Segundo Maria, o banco informou que a conta de depósito estava sem saldo e que outras pessoas também já haviam caído no golpe.

“Por mais que você esteja em situações ruins, principalmente financeiras, não aceite qualquer coisa que oferecem em rede social pois golpes assim, infelizmente estão acontecendo todos os dias e está cada vez pior”, finaliza.

Golpe do carro quebrado

Há cerca de quatro meses, um senhor de 63 anos perdeu cerca de R$ 1.800 ajudando uma pessoa que se passou por seu cunhado. Ele recebeu uma ligação da área 16, região de Ribeirão Preto.

Por ter parentes naquela área, ele atendeu. Do outro lado, a pessoa já sabia o nome da vítima. Aqui vamos chama-la de Beto.

Segundo um parente da vítima, o golpista veio com uma conversa mole, perguntando se Beto sabia quem era. “Você não lembra, aqui é seu cunhado que você mais gosta? É você Roberto?”, dizia o farsante.

Nas primeiras conversas, o golpista disse que estava em Mirassol, com o carro quebrado e que não tinha dinheiro para pagar o conserto. Ele pediu R$ 1 mil. Beto disse que não tinha dinheiro naquele momento, mas que iria providenciar.

Beto disse que não sabia fazer PIX, mas que iria no serviço do filho para efetuar o pagamento. Ele ligou para pedir a chave e o golpista se aproveitou da boa vontade e disse que o conserto do carro não ficaria R$ 1 mil e sim R$ 1.500.

Homem de bom coração, Beto pediu para o filho enviar R$ 1.800 para o suposto cunhado e depois ele receberia.

Enquanto o filho fazia o PIX, Beto ligou para a esposa para avisar que o cunhado estava em Mirassol e que era para ela preparar almoço para as visitas que viriam.

Por coincidência, ou não, a verdadeira cunhada ligou para saber como estava família em Monte Aprazível. A esposa de Beto, perguntou se ela estava em Mirassol ela disse que não e que ambos estavam em Ribeirão Preto. Já era tarde e o depósito já havia sido feito.

Tempos depois, Beto passou por problemas de saúde e a todo momento se lamentava pelo dinheiro perdido, pois que naquele momento em que estava com o estado frágil de saúde, os R$ 1800 estavam fazendo falta.

Segundo a família, Beto não quis procurar a delegacia para fazer boletim de ocorrência, pois teve vergonha do ocorrido.

O delegado Mauro Truzzi faz um alerta e pede para as pessoas desconfiarem de tudo e das promessas de venda de um produto pela metade do preço de mercado.

“Não existe almoço grátis. A desconfiança positiva do cidadão é fundamental para que ele não seja vítima de crimes cibernéticos. Desconfie de sites, não aceite links que você não conheça, bloqueie contatos estranhos. Na busca de um ganho irreal. Não existe a pessoa vender por R$ 35 mil um carro que vale R$ 70 mil. A desconfiança é muito valiosa para vítima”, finaliza.