ROBLEDO MORAIS: Simplesmente Maria, Minha Mãe

Oi Maria, estou à mesa do café e o meu olhar é atraído por três camisas na lavanderia da casa. Penduradas em cabides, feito dançarinas, as camisas rodopiam num suave bailado provocado pela brisa fresca da manhã. Uma manhã tão doce como a cana fita, boa de chupar, com que você nos brindava no tempo em que eu e meus irmãos éramos crianças.

Olha Maria, há dias transcorreu o seu aniversário e eu consegui dizer a reza do terço, como você nos ensinou, frente a uma imagem da Virgem do Perpétuo Socorro de quem você gostava tanto. Da reza surgiram recordações.

Lembra-se Maria? Eu me recordo. No começo da noite você nos punha ajoelhados aos pés da cama, numa cerimônia costumeira, para uma Íntima conversa com sua Virgem.

Eu era criança e não entendia o que aquele ato significava – acho que meus irmãos também não -, mas ao perceber a serenidade do seu olhar achava aquela reunião tão boa como a cana mole e doce que você nos servia. Confiava em você Maria.

Peralta que eu era, as travessuras diárias me deixavam extenuado e um sono invencível tomava conta de mim, fazendo-me bater o rosto no colchão de capim. Você não me censurava. Não. Carinhosa, encostava minha cabeça no seu colo e entoava alguma canção de ninar.

Lembro-me de uma que falava do fim das tarefas diárias e da chegada da noite. Um verdadeiro histórico do dia que culminava com a saudação de um piedoso “Boa noite meu Jesus”. O tempo passou, os meninos e as meninas cresceram, estudaram nas cidades grandes, mas a distância física jamais impediu de você estar sempre com eles.

Você costumava visitar os mais próximos e era visitada por todos e o seu semblante bem demonstrava como era feliz. Pudera, criara onze filhos!

Um tempo antes de sua partida para o outro lado da vida, por sugestão de minha mulher Ana Maria, peguei-a no colo e com minha Irmã Zita fizemos um bucólico passeio ao Ceará, sua terra natal.

À acolhida no aeroporto de Fortaleza já foi uma demonstração de generoso carinho por parte de nossos familiares, a demonstrar a felicidade daqueles dias que viriam, feitos para matar saudade. Você quis ir à praia, onde as águas ao vê-la chegar faziam singrar jangadas de alegria pela filha que retornava.

As verdes e faceiras ondas davam boas-vindas à menina dos Inhamuns que estudara em Pacoti e que nas férias escolares alfabetizava os trabalhadores do pai Cícero Bernardo. Era a graciosa e “mignon” professorinha que se desvelava socorrendo os mais humildes, ensinando-os a ler para a busca de melhores horizontes.

Era a Maria que, vocacionada desde criança, viera ao mundo para ser professora! E alfabetizou os filhos todos e me fez ler todos os episódios de um livro de capa vermelha, chamado Crestomatia.

Muitas histórias bonitas continha a obra, mas me impressionou muito a narrativa sobre a vida de um pequeno grumete que aos 15 anos deixou a família para trabalhar em um navio. Tinha tanta saudade o pequeno marinheiro que à noite ia para o convés do navio e sob a luz da lua pedia forças à mãe, com sua fotografia nas mãos.

E você Maria não hesitou quando Morais, seu marido, resolveu morar no distante estado de Mato Grosso, acompanhando-o na sacrificante viagem de 15 dias em um caminhão em busca da terra prometida. Foi uma aventura e tanto rumo ao desconhecido!

Quem moraria em um lugar tão longe? Como seriam essas pessoas? Haveria casa para morar ou ficariam ao relento os cinco filhos pequenos?

Todavia, as dúvidas que lhe martelavam a mente desapareciam num passe de mágica quando olhava para o incorrigível otimista do seu marido. Finalmente chegaram, mas aonde? Só casas de sapé e paredes de taipa.

Uma só casa de tijolos e coberta por telhas. Mas aí aconteceu o inexplicável. Chegaram uns homens com suas mulheres e crianças que lhe presentearam com ovos de galinhas, embalados individualmente em palha de milho. A cordialidade tomou conta do grupo que chegava e do que recepcionava.

No mesmo dia a família dos nordestinos aventureiros já estava residindo em um palácio construído com dádivas da natureza: madeiras nativas entrelaçadas, salpicadas com barro eram as paredes; as janelas eram toscas aberturas circundadas por pedaços menores de bambu (taboca) e a porta era uma peça maior também feita de bambu que apenas era encostada na abertura. Não se falava de fechadura.

 O motorista do caminhão ofereceu a volta gratuita ao Ceará. Preocupado, Morais virou-se para você Maria com um olhar de “O que você acha?”. A pequena mulher sentiu-se grande e estendeu a mão para o motorista “Zé Arteiro” (como era chamado), desejando-lhe bom retorno.

A sua simplicidade Maria alavancou a coragem de Morais para permanecerem no pequeno lugarejo que vocês ajudaram a se transformar na acolhedora e gentil cidade de Pedro Gomes.

Hoje ainda permanece em mim incontida alegria, quando me recordo Maria de sua simplicidade, alavanca maior de sua sabedoria!

Maria, a alegria de ter sido um dos seus filhos é tão grande, que como o poeta, me dá vontade de soltar foguete, acender uma fogueira e encher o céu de balões.

Obrigado por você ter sido na vida simplesmente Maria!

MAMÃE, OS CORAÇÕES DOS SEUS FILHOS E FILHAS JAMAIS SE ESQUECERÃO DE TI!

ETERNOS PARABÉNS PELO SEU DIA

Robledo Morais

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