OPINIÃO: Monte Aprazível e Padre Nunes

Eu poderia iniciar esta crônica falando dos dados históricos de Monte Aprazível, dos seus filhos ilustres e dos moradores mais antigos que enobreceram sua história.

Isto, porém, deixo para quem tem conhecimento profundo da matéria, como os meus amigos escritores, Luiz Carlos Canheo e José Maria Neves Rodrigues.

Vamos então ao pouco que tenho a dizer.  Era uma vez… (Não é assim que começam as histórias que as mães contam para os filhos pequenos?).

Pois bem, era uma vez uma cidade bonita, acolhedora e cheia de pessoas felizes que se cumprimentavam e se perguntavam como estavam passando. Sem medo de incomodar, de perder tempo ou de não poder assistir as novelas da tevê.

Era gente que se sentava nas calçadas, pelo simples prazer de conversar com os amigos e vizinhos e os encontros eram invariavelmente regados por um cafezinho feito em casa com o ancestral coador de pano!

E permaneciam do lado de fora de suas casas tão simples como aquelas cantadas por Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque:

“São casas simples com cadeiras na calçada e na fachada escrito em cima que é um lar!”. 

A cidade tinha árvores frondosas, com grandes copas. À noite eram misteriosas e de dia tornavam-se bondosas revigorando gente cansada com suas reabilitadoras sombras.

Moças e rapazes dali e de outros cantos estudavam nas boas escolas públicas e no Ginásio Dom Bosco. Nas horas de lazer se encontravam no “footing” do jardim público, emoldurado pela belíssima fonte luminosa, ao som das baladas da orquestra de Billy Vaughn.

As meninas, ansiosas por um olhar e eles, prontos para disparar galanteios e a, ousadamente, convidá-las para um sorvete!

As noites eram de um céu todo especial, tecnicolor, aprazivelmente repleto de estrelas, sem fumaça de óleo diesel que impedisse a ímpar visão de um pontuado e geométrico Cruzeiro do Sul, de uma opaca e dengosa Via Látea e das solitárias Três Marias.

Bucolizando o cenário, os sapos orquestravam uma sinfonia de ruidosos acordes, para alegria das rãs que se travestiam de dançarinas à luz do luar, flutuando sobre as águas da “Represa dos Sonhos”.

Havia na cidade muitos homens e mulheres de bem, e dentre essas pessoas, um padre. Sim, um padre. O Padre Nunes! O forasteiro que viera do Mato Grosso e aqui aportou, metendo-se a educar jovens.

E, missionário que era, caminhou por longos caminhos à busca de nobres princípios e largos ideais. Com sua especial compreensão, conseguiu dobrar rebeldes, dosar valentias, transformar músculos em sentimentos, valorizar as artes puras, o estudo e o trabalho.

Gerou com sua dedicação e amor muitos filhos. Filhos de sua bondade, de sua crença em realidades sublimes.

Pescava com seu anzol – talhado pela vida – problemas de almas juvenis e os transformava em soluções de vida! Era literalmente um pescador de peixes… E de almas! Almas jovens que hoje, já maduras, conservam grudados em si, qual tatuagens, os ensinamentos do mestre amigo e operário da Educação.

Um paladino da dignidade e do respeito à vida humana, que se sobrepunha  a todos os restos: poder, dinheiro, usura, lucro fácil e desmandos.

Mas, ninguém é eterno fisicamente e na fria noite de 7 de julho de 1985 o insigne educador se foi para outros mundos. Outros mundos cheios de luzes, de rios piscosos e águas serenas, onde uma multidão de jovens o recebeu de peito aberto.

E para ele cantaram bucólicas canções que começavam mais ou menos assim: “Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito”, ou “Dom Bosco, teus filhos em cantos de amor, radiantes te hosanam qual mestre e pastor…”

E outras canções se sucederam. Ele, comovido, não se conteve: “Não fora a bronquite que tanto me incomodou nos últimos anos de minha vida terrena, eu teria arriscado uma cerveja com minha gurizada”! Mas, a volta era impossível e por lá ficou.

Aquele padre, José Nunes Dias, além de educar os seus guris, ensinou-lhes a ter especial apreço por Monte Aprazível, a linda CIDADE REPRESA DOS SONHOS, que aniversaria neste dia 10 de março e que seu “Ginásio Dom Bosco” fez conhecida em distantes rincões do nosso país. 

PARABÉNS MONTE APRAZÍVEL, TERRA DE PORFÍRIO DE ALCÂNTARA PIMENTEL E DOS CORAÇÕES DE TODOS AQUELES QUE AMAM VOCÊ!  

PS- Conclamo os amigos que fiz em Promissão a se unirem aos monte-aprazivelenses neste próximo 10 de março, data comemorativa do aniversário de Monte Aprazível.

Sobre o Autor:
Robledo Morais é escritor, autor do livro o livro “Crônicas e outros rabiscos” e juiz aposentado

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *